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Acidente Vascular Cerebral: prevenção e reabilitação neuropsicológica

Acidente Vascular Cerebral: prevenção e reabilitação neuropsicológica

Sílvia Pereira, 2011 - Publicado na Revista Pontos de Vista - Público

Acidente vascular cerebral (AVC) é o nome dado à lesão do cérebro que se produz quando o fluxo sanguíneo que chega ao tecido cerebral é interrompido devido à ruptura de uma artéria (hemorrágico) ou à sua obstrução por um coágulo (isquémico).

 
Os sintomas do AVC, dependem da área do cérebro afectada, mas incluem, inicialmente, a perda de consciência e convulsões. A fraqueza ou paralisia de uma parte do corpo são sinais de alerta. Posteriormente, pode ocorrer dor de cabeça muito forte, confusão mental, vertigens, perturbações visuais, dificuldade em falar e comunicar. 


Relativamente às consequências, elas dependem da extensão da lesão. Contudo, se esta ocorre no hemisfério direito, surgem distúrbios da percepção. Pode surgir também a incapacidade de  programar uma sequência de movimentos (apraxia), apesar das funções motora e sensorial estarem aparentemente intactas. É ainda frequente a incapacidade de reconhecimento de objectos familiares (agnosia) e a perturbação da linguagem (afasia) que constitui um dos défices neuropsicológicos mais frequentes, que gera incapacidades funcionais e comunicativas graves. 


Mas, salientamos que o AVC pode ser evitado, desde que sejam corrigidos factores de risco e promovidos estilos de vida saudável. Deve apostar-se na prevenção primária, através da prática do exercício físico, boa qualidade de sono, dieta equilibrada, mas especialmente duma mudança na forma de lidar com as exigências do quotidiano. De facto, o stress, os problemas, as dificuldades, os conflitos, são factores que contribuem muito para desencadear um AVC. Logo, importa mudar de hábitos, mas mudar a forma como se vivenciam as situações do dia-a-dia, como se lida com os obstáculos que surgem e como se encaram as dificuldades.


Os danos causados no cérebro por um AVC provocam perdas de funções. É um facto. Contudo, através da reabilitação neuropsicológica (intervenção constituída pelo treino de competências para reabilitar as funções cognitivas lesadas), dá-se o fenómeno da neuroplasticidade: capacidade que o sistema nervoso tem para modificar a sua organização estrutural e funcional. Portanto, podem minimizar-se alguns dos danos provocados.


A intervenção neuropsicológica baseia-se em dois grandes pressupostos: a restituição e a substituição. A restituição da função visa favorecer a recuperação da função propriamente dita, dos meios e capacidades / habilidades necessárias para alcançar determinados objectivos. A substituição ou compensação da função visa favorecer a recuperação de objectivos, trabalhar com o paciente para que possa desenvolver e alcançá-los usando meios diferentes dos utilizados antes da lesão. Assim, o objectivo principal da reabilitação é a optimização do funcionamento físico, emocional e social da pessoa, depois do dano neurológico.


Geralmente, um programa de reabilitação neuropsicológica deve permitir que paciente e família entendam o sucedido; deve proporcionar o treino de competências para recuperar e compensar défices cognitivos, melhorar a actuação da pessoa em diferentes situações sociais, ajudá-la a estabelecer compromissos realistas de trabalho e nas relações interpessoais e, promover um ambiente realista de esperança.


Estes programas devem ser desenvolvidos por equipas multidisciplinares e conter exercícios que possam ser aplicados através de meios capazes de representar situações do quotidiano, em que o paciente é incentivado a concentrar-se, interagir, raciocinar, tomar decisões, entender o discurso corrente e expressar sentimentos e pensamentos.


Não esquecendo a recuperação espontânea do próprio cérebro, a reabilitação neuropsicológica deve iniciar-se logo que o paciente se encontre disponível. As sessões são de grupo ou individuais, com a frequência de uma a duas vezes por dia. Tanto a duração da sessão (15/60min.) quanto os exercícios de reabilitação neuropsicológica realizados pelos técnicos devem ter em conta as características do paciente. É importante, não só adaptar o comportamento e atitude em função da idade real do paciente, mas ainda ser optimista e empático, desencorajando os desempenhos com erros e reforçando os sucessos.


Em suma, e embora o AVC seja conceptualizado como uma doença do envelhecimento, pode ocorrer em qualquer idade. Logo, torna-se fulcral sensibilizar e apostar na prevenção, uma vez que é responsável por 10% de todas as mortes a nível mundial, e em Portugal a principal causa de dependência e incapacidade.

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